quinta-feira, 29 de maio de 2008

... do medo de amar

Você percebeu que o beijo estava com um gosto diferente e até sem graça. Pensou que ela simplesmente não estava num bom dia. Doce engano. Não era ela. Você pode até beijar outras mulheres, mas quando seus olhos se abrem não há como negar a decepção por descobrir que os lábios não eram os que realmente desejava.
Você pode até pensar que não há outra forma, que é melhor assim e que só falta você se acostumar com a ausência dela. Pode mais: pode tentar convencê-la disso. Só não ousa dizer na frente do espelho. Sabe que seus olhos o denunciariam a si mesmo.
Você pode até negar paixão. Por telefone, Internet ou carta. Ou, quem sabe, pode até tentar novas paixões. Pode deixar de vê-la. Pode guardar objetos. Pode rasgar fotos. Pode não freqüentar alguns lugares. Mas não pode fazer teus olhos não brilharem quando ela estiver por perto.
E ela? Ela adquiriu o hábito de te ler por teus olhos. Ela até prefere que você se decepcione, que você acredite que foi melhor assim, que você negue paixão. Ela sabe que você pensava nela. Ela sabe que você não tem coragem de conversar com o espelho. Ela sabe que seus olhos brilharão ao avistá-la. E ela adora poder ver isso acontecer.
Como ela sabe? Porque ela também se decepciona, também tenta convencer-se de que se afastar é melhor e também não tem coragem de conversar com o espelho.
Você não consegue esquecê-la.
Ela não consegue afastar-se.
Vocês são dois tolos.
Sei que me dirá q eu sempre afirmei serem os apaixonados tolos, que agora digo q está apaixonado e que dizer que você é tolo é redundância.
Então, digo-te: não é a essa tolice que me refiro agora. Falo sobre o medo que vocês têm de amarem-se. E não há tolice maior.



Por isso, fugi de te encontrar. Mas a vida é mesmo uma infâmia e me colocou na tua frente em uma rua que eu já havia pensado em te encontrar.